Talvez você já tenha comentado ou ouvido alguém comentar sobre este assunto que iremos discorrer a partir de agora. SÃO JOSÉ É UMA CIDADE ELITISTA. Alguém diria; como assim? Aqui não existem pobres que trabalham muito para viver? Todas as cidades os têm, e eles são a maioria. Mas é preciso entender como se deu o processo de distribuição da população pelo território.
Ora, até a primeira metade do século XX, o maior adensamento populacional de São José dos Campos estava inserido em três núcleos: Santana, Eugênio de Melo e centro. O restante da população estava distribuído ao redor das fazendas do município. Com a construção da Rodovia Presidente Dutra em 1950 e a instalação do CTA em 1951, a cidade começara um novo ciclo de industrialização. Diferentemente do primeiro ciclo da década de 20 marcado pela tecelagem e a cêramica, agora eram as multinacionais que gradativamente começavam a instalar-se ao longo da Via Dutra. Já o CTA e o ITA, cumpria uma função de catalizador das grandes indústrias, fornecendo mão-de-obra especializada na prestação de serviços para as grandes empresas.
O Estado brasileiro estimulava a migração da população camponesa para as grandes cidades. Vivíamos um momento de mudança de paradigma; O Brasil era um país rural até então, mas no pós-guerra, investimentos pesados na industrialização das grandes cidades, principalmente as cidades da região sudeste, impulsionaram o êxodo das populações de Minas Gerais, Paraná, Bahia e demais estados da região nordeste, para a região sudeste, transformando gradativamente o Brasil em um país urbano. Preocupados somente com o crescimento econômico, o Estado não estava interessado em atender os novos problemas sociais advindos com a urbanização.
Originários do Nordeste, do Triângulo Mineiro e do Paraná, são os migrantes que vieram construir São José dos Campos. Inclusive, desde a década de 30, os primeiros migrantes se instalaram no Banhado, tornando a área um bairro, embora nunca regularizado pela prefeitura.
Antes de 1950 a burguesia joseense estava distribuída pela Rua XV de Novembro e na Av. João Guilhermino, isto porque a Rua XV de Novembro era a Rua Direita, que seguia direção a Igreja Matriz. E a Av. João Guilhermino era a Rua da Estação, pois chegava ao fim exatamente na antiga Estação Central do Brasil, onde hoje está o Tênis Clube. Perceba leitor o seguinte: a burguesia, e não somente a burguesia de São José dos Campos, mas a burguesia enquanto classe dominante escolhe os melhores terrenos para sua dominação.
As classes dominantes exercem seu controle sob o Estado apropriando-se das áreas com melhores atrativos naturais e de maiores investimentos pelo capital, propiciando a segregação espacial na cidade. O padrão segregacionista dominante estabelece a estratégia de setores de círculos. Os setores de círculos possibilitam melhor controle da classe dominante dos deslocamentos espaciais. As camadas de alta renda tendem a progredir em direção a localidades específicas, como vias de acesso específico, centros comerciais, terrenos altos livres de inundações a se espalhar ao longo de bordas de lagos, baias, assim como regiões rurais, onde a natureza é vendida a um alto custo. O sistema capitalista necessita da concentração do capital imobiliário e na difusão de todo um “sistema residencial”, onde as transações imobiliárias são apenas o pano de fundo de um conjunto de relações que procuram vender um “modo de vida burguês” através dos supermercados, shopping centers, concessionárias e demais formas de lucro.
Os promotores imobiliários planejam a infraestrutura dos terrenos passiveis de comercialização, visando atender os segmentos da classe média e alta da população que possuem o capital necessário para adquirir estas habitações. Os proprietários imobiliários elevam o preço da terra de acordo com o status social do bairro e as amenidades naturais, valorizando certas áreas em detrimento de outras, ocasionando a segregação espacial. O Estado é o provedor dos serviços públicos, mas a redistribuição destes serviços termina por ser desigual, privilegiando os interesses das classes dominantes. Como agente regulador do uso do solo urbano, o Estado termina por agir como proprietário fundiário e promotor imobiliário, contribuindo para a segregação espacial e social. Por fim, as camadas excluídas da sociedade transformam-se em agentes modeladores do espaço, construindo habitações precárias em terrenos públicos ou privados, muitas vezes vulneráveis a impactos ambientais. As camadas excluídas da sociedade se apropriam dos territórios desvalorizados pelo capital financeiro como uma estratégia alternativa de sobrevivência às regras da compra e venda.
Conforme São José dos Campos enriquecia-se com o trabalho dos migrantes que aqui vieram ganhar a vida, a classe dominante, aliada a prefeitura municipal organizava a distribuição espacial desta população. A burguesia joseense se expandiu timidamente em direção à região sudoeste. Ocuparam áreas como a borda do Banhado seguindo caminho pela região, fundando diversos bairros como: Vila Adyanna, Jardim São Dimas, Jardim Esplanada, Jardim Apolo, Urbanova, Esplanada do Sol, entre outros. Na década de 70 os primeiros condomínios fechados consolidaram a mais pura manifestação do poder imobiliário no município.
Enquanto a classe dominante dominava as melhores áreas da cidade, a classe trabalhadora foi estimulada a ocupar as zonas sul, leste e norte da cidade. Em diversos projetos de desfavelização, os moradores de comunidades como: Linha Velha, Santa Cruz, Banhado, Nova Detroit, Morro do Regaço, Vila Rossi, e outras, foram direcionados para as regiões sul e leste, transformando a região num imenso bolsão de assentamentos populares.
A classe dominante reduziu o centro da cidade a mera função comercial. Para a classe dominante, não é permitido aos pobres morar no centro, somente a ela. Conforme o tempo, até as áreas mais desvalorizadas pelo capital ganham importancia, pois o capital é expansionista e precisa de territórios para sobreviver, tal como um vírus. Isto é o caso do Banhado, a área mais ambicionada da cidade, pelas grandes corporações. O projeto das corporações continuará estimulando o segregação espacial da cidade, pois as vias expressas são vetores de crescimento. E quanto maior for o crescimento populacional, maior o lucro dos empresários.